Arte Em Expectativa

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Arte se define pelo Aurélio como "capacidade que tem o ser humano de pôr em prática uma ideia, valendo-se da faculdade de dominar a matéria." E aí eu fico a pensar se a arte ao ser criada está completa ou ainda está a se completar.

 

Quando fui em uma exposição dos quadros de Picasso no Ibirapuera em São Paulo, andando em meio toda aquela inegável arte, gostei de algumas obras e de outras não. Alguns quadros não me tocaram Claro, sou um cidadão comum, não tenho escola sobre arte, então a minha apreciação é a mais rasa possível.

 

A arte te toca, esse é um ponto interessante nas obras, em qualquer tipo de arte. Quadros, músicas, bijuterias, várias aplicações em tecidos, porcelanas, panos de pratos vendidos pelas senhoras nas esquinas de São Paulo, colares, filmes, poesias, livros, enfim, tudo que se define por arte, há um ponto importante que é o tocar. É como se aquela peça artística e você se encontrassem. Há muito estavam separados e naquele momento há o encontro. A reação é imediata, quero te levar para minha casa, quero conviver com você, arte. O tocar é como uma paquera, você olha a menina ou o cara e se deslumbra, te toca aquele ser, mas parece que os objetos de arte são mais duráveis que o resultado das paqueras. Da menina você pode enjoar, cansar, mas do objeto artístico o enlace parece ser mais duradouro. A paixão da arte.

 

Um sujeito entra em um bazar ou em uma feira de artesanato e vai andando, para em uma tenda, em outra, segue mais em frente, pega um objeto na mão, deixa, olha outro e de repente há o encontro. Ele fixa o olhar em algo, vai em direção, exclama, diz como é lindo, elogia o artista e quer levar para casa. Em poucas palavras,  ele se apaixonou pela arte, amor à primeira vista. Com a arte é assim, sempre, amor à primeira vista. E o interessante é que os acompanhantes dos apaixonados  nem sempre se manifestam terem gostado do objeto artístico, achou agradável apenas, ou nem isso. O amor pela arte é pessoal e passional, compramos às vezes até aquilo que sabemos estar ultrapassando nosso orçamento doméstico.

 

Então penso, será que a arte é arte completa ou arte em expectativa? Quando o artista termina um quadro, ele já é arte ou é uma expectativa de arte? Em dez quadros que observo, um deles será o escolhido. Escolhido porque ele irá me tocar, haverá o velho encontro há tanto tempo esperado, como um amigo perdido que foi encontrado. Até então ele era apenas mais um quadro, apenas arte em expectativa, todos os dez quadros, arte em expectativa e quando eu me apaixono por um, então ele se completa em arte total. Em arte total para mim.

 

Nesta forma de pensar, a verdadeira arte fica à espera do observador, inerte, em exposição, seja num museu, seja em uma feira, no cartaz de um filme, em uma loja até que então aparece como um lindo príncipe ou princesa em seu cavalo branco e toma em seus braços o objeto artístico, para ele ou ela, único, incomparável e o leva para seu castelo e de certa forma o salva e o liberta do artista seu mestre e criador. Assim a arte se completa com o observador, uma arte à quatro mãos. A arte total seria não apenas a criação do artista, mas também teria a participação final do observador apaixonado.

 

Não importa o que seja, o mais interessante é que o ser humano traz consigo esta fagulha criativa, certamente uma pequena centelha que escapou na grande explosão primordial que a tudo criou.






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