SILÊNCIO

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Havia uma Maria que tomou como esposo um José, que lavrava madeira e a transformava em mesas e arados e travas e tesouras e outras coisas mais que se precisasse, mas além desta habilidade tão útil de todos os tempos, ele também lavrava o silêncio. E quando sua futura esposa lhe disse estar grávida de algo superior, espiritual, ele em silêncio aceitou, com o mesmo silêncio que aceitou, por ordens de Estado, ir em direção a uma grande cidade, com Maria ao seu cuidado e mais alguns, com carroças e burros e pés e poeiras e pós e marchas e nós, porque de nós todos nós somos feitos. E silenciosamente pediu uma hospedagem em uma pequena cidade para que sua Maria ao seu cuidado pudesse ter seu filho, que não era seu, mas que em silêncio adotou, como em silêncio também aceitou, nesta mesma ocasião, em que foi visitado por três homens que se diziam reis e que apareceram do nada como do nada se foram, deixando simbólicos presentes para o recém-nascido como se o próprio menino em pobres panos ali deitado pudesse um rei ser aclamado. E sonhou dias mais tarde que homens muito maus com uma espada sangrenta cortariam a cabeça de seu filho e assim em fuga, com todos os pés e poeiras e pós e também com todos os nós, em um pequeno burro montou sua Maria com seu filho, que agora também era seu e partiram os três. Em silêncio. 




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