A CONFISSÃO


A CONFISSÃO - Quando era moleque na fazenda, sempre tive um sentimento que incomodava. Achava que não era certo a diferença que havia na minha família e a família dos empregados. Sua casa e a minha casa que era bem maior e todas as diferenças sociais e econômicas que nos distanciavam. Ficava pensando naquilo sempre, tentando desvendar este mistério. Como os filhos dos empregados eram todos meus amigos que me ensinaram a laçar, tirar leite, jogar truco..., a coisa ficava pior. Eu queria uma resposta.

conf

Aproveitando uma ida à cidade de Aparecida com meus pais e sabendo que lá haveria de confessar, que como todos sabem, em resumo, você conta seus pecados para um padre que te perdoa em nome de Deus, pensei que seria uma boa oportunidade para ser esclarecido destas diferenças, que  eu como novo terráqueo, 10 a 12 anos, não conseguia entender. E lá fui no meio daquela enorme quantidade de pecadores. De início fiquei impressionado com o tamanho da porta que se abriu e com todo aquele movimento passando por ela, eu meio espremido não conseguia deixar de pensar na semelhança que havia quando era aberta a porteira do curral na fazenda e as vacas saiam em tumulto.

Assim que vagou um confessionário ( mais ou menos igual quanto íamos falar por telefone público, "chamando, cabine quatro por favor!"), ajoelhei na frente do padre, cara a cara, e mandei minhas dúvidas. De início não entendi se o padre havia tido um derrame ou havia sido vítima da famosa mosca africana Tsé-Tsé. Acho que o cara havia dormido muito mal mesmo porque bocejava a cada palavra e cada palavra nada dizia do que perguntei. Enrolou com aquela cara de que, nem sei o que estou fazendo aqui, me perdoou de todos os pecados cabeludos que um pré-adolescente poderia ter cometido e dispensou este penitente com algumas ave-marias por rezar. Saí como entrei. 







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