O estado
Não me sinto bem, eu digo.
Não me sinto.
Não sinto o sentir alheio que diz tocar-me tanto.
Impossível!
O externo nunca antes me pareceu tão pouco semelhante ao de
outrora, quando ainda percebido.
Isto é grave, não me sinto! Compreendes, bem? Acolhe-me,
pois não sou.
Trata-se de um humano que está deixando o próprio corpo,
ambulante.
Venho vivendo as paredes, os degraus, a lama, tudo tão
íntimo a me refugiar na parda ilusão da autossuficiência humana.
Tudo como se distante. O deslocamento.
A fratura interna, a febre da verdade, a doença louca do
humano em pensar, em crer ser-se.
Não, isto não é possível; quede a mobilidade fluida daquele
fio de alegria que une os corpos transeuntes, tão oníricos e contentos - disto
conheço muito pouco. Conhecemos, porque habilitamo-nos à febre terçã
imperdoável do pré-concebido, assimilado, personalíssimo. E, após, a morte.
Não há mais como engolir pisar repisar, urge uma percepção
compartilhada!
Urge o puro.