O PAPINHO CARETA DO ZÉ

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O problema do Facebook é que o Facebook não te abraça, não existe nada mais gostoso do que um abraço de um ser humano, de uma mulher, de uma namorada, de um amigo! Então o que é o Facebook? Facebook são milhões de pessoas solitárias, conversando, mas não existe o relacionamento próximo, não existe o olho no olho, o sentimento, o calor, não existe o tato, não existe a pele, o arrepio, no Facebook você não vê a pessoa, porque todo ser humano tem uma beleza, tem uma forma de ser, independente de você achar a pessoa bonita ou feia ela exala algo para você, então quando você a encontra, passa uma noite sentado num bar, duas, três horas com uma menina, com um amigo, há um relacionamento, há uma troca de carinho, de bate-papo, de energia, aquilo afaga o seu espírito, afaga a sua pessoa, são horas gostosas, já na internet, no Facebook, no chat, é frio, é máquina, é como conversar com uma máquina, poderia ser que toda aquela conversa de todo mundo fosse criada pelo computador, pela memória, por um programa. Uma menina manda beijos para você, é diferente de quando ela te dá um beijo, é diferente, abraços, é diferente. 


Então o que acontece, nós estamos vivendo em uma sociedade gelada, uma sociedade fria, sociedade Electrolux, não há contato humano. Nada mais gostoso que você sair de um lugar e encontrar um amigo, sentar, bater um papinho durante quinze minutos, há uma troca, um afago. Agora não, agora o que nós fazemos? Nós falamos, digitamos, falamos, mas é tudo frio, a máquina impera à distancia, é um mundo que se comunica como nunca, são milhões de solitários que se comunicam sem parar o dia inteiro, mas solitários. É a mesma coisa o celular, quando não havia celular, ou você falava em um telefone fixo que era difícil, você falava, mas o que valia era o encontro, você queria encontrar a pessoa, o telefone era apenas um meio de se chegar à pessoa, porque quando você encontrava a pessoa era um encontro real, era a finalidade, o telefone apenas um meio, hoje no celular você fala o dia inteiro, mas é o carinho "meia-boca", é o afago "meia-boca"! Hoje o encontro pessoal é rápido e a conversa eletrônica eterna. 


A carta, a carta era mais carinhosa que o telefone. Quando você recebia uma carta da namorada, de um amigo, era uma expectativa, o que será que está escrito naquela carta, o que ele ou ela me escreveu, quais notícias, quais mensagens, o que será que aconteceu, e você abre a carta, e a carta é pessoal, alguém debruçou sobre aquele papel, muitas vezes lágrimas eram derramadas, marcavam o papel, podia sentir um perfume mesmo sem a intenção, muitas vezes o perfume era intencional, gotas de perfume espalhadas pela carta, você sentia o perfume, o aroma da pessoa amada, aquilo fazia a ligação entre você e ela ou ele, havia uma ligação, um pequeno ser acompanhava a carta, e você lia até o final, havia uma expectativa final, afagava o espírito muito mais que hoje o seco celular, o frio celular que te encontra em qualquer lugar, mas nunca te encontra na verdade, máquina atrás da máquina. A carta era mais um meio usado para o encontro, a finalidade era o encontro, sempre o encontro que se define também como achar, descobrir, compensar, achegar, unir…  


Sociedade fria. Facebook, twiter, bacana, tudo muito bacana, muito moderno, sensacional, eu gosto, eu uso, estou dentro do congelador, eu abri a porta e entrei e é frio aqui. Troca-se foto, mensagem, todos sabem de tudo ao mesmo tempo, todo mundo diz eu te amo para milhões de pessoas. Declarações de amor hoje são banais, o sujeito conhece uma pessoa dois meses e já fala, 'eu te amo de paixão', 'você é a mulher da minha vida', 'vou passar a vida inteira com você', 'meu anjo, meu amor,' as declarações de amor se tornaram banais. Banalizaram o amor, se já era difícil definir o amor, hoje é impossível. Não há mais espaço para Romeu e Julieta. Não há mais espaço para Shakespeare,  "a morte que sugou todo o mel do teu doce hálito, não teve efeito nenhum sobre tua beleza", "nos teus mais doces lábios ficam os meus livres do pecado". Shakespeare hoje, rasgaria o teatro, jogaria tudo fora e iria plantar batatas no interior da Inglaterra. 


Para você declarar amor a uma mulher, você pensava, a declaração de amor era um marco na vida do sujeito, do casal, dos namorados, hoje o Facebook banalizou as declarações, tanto as declarações de amor quanto as declarações de ódio. No passado você não encontrava uma pessoa na rua e dizia na cara do sujeito, eu te odeio, hoje se fala no Facebook eu te amo de paixão, eu te odeio, você é a desgraça da minha vida e tal. É um mundo frio, é um mundo de solitários, ninguém se aquece ao sol do lado da pessoa amada! O contato aquece o sol que nos aquece. Hoje no Facebook somos todos estranhos a todos, falamos sem parar, porque somos todos estranhos uns aos outros, não há contato, não conhecemos o cheiro de ninguém, não conhecemos a textura da pele, a cor dos olhos, o brilho dos olhos naquele dia, naquele encontro, as rugas, as marcas de expressão um do outro, os gestos, não dá para conhecer alguém realmente com esta convivência fria. Somos um mundo de solitários e nos comunicamos maravilhosamente bem, o dia todo, mas a frieza e a distância imperam. Sociedade Electrolux!  

Desculpem o papinho careta do Zé, mas agora preciso abrir meu Facebook pra ver se curtiram uma foto que postei!






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