Por: João Paulo Pinto Zanchetta
Essa semana que passou, senti uma tristeza que a Laura, minha filha, conseguiu definir muito bem associando à perda de um ente querido. Mas, o José Geraldo, na Folha da Jabuticaba, já expressou com palavras como eu não conseguiria fazer.
Passado o momento inicial, da emoção e comoção, queria começar a pensar e discutir a obra de contenção da erosão da boçoroca Senhor Menino, mais precisamente a drenagem das minas e aterro do “atoleiro” ou “atoladouro”, o ápice do passeio.
Não vejo semelhança simples da encosta da boçoroca com outra encosta qualquer, que os engenheiros contêm com aterros que eles (a Sequóia empreendimentos imobiliários) projetaram na forma de degraus gramados e arborizados. Não quero apenas repetir as opiniões do professor Majella, ao dizer que aquela boçoroca tem aproximadamente o mesmo tamanho e formação há mais de 150 anos e, apesar de ser um organismo vivo, seu crescimento é tanto menor quanto menos interferimos. Fui testemunha da primeira tentativa de conter os avanços da erosão há mais ou menos 25 anos, exatamente nessa área que vi nessa semana o maior desmoronamento.
Mais especificamente, sobre a obra agora feita pela Sequóia, queria colocar duas observações minhas, que após o sucesso das primeiras negociações – obtidas pela pressão do movimento – com a referida firma, consegui elaborar ainda sem a opinião de outros profissionais que vou ouvir: geólogos, engenheiros civis, agronômicos e ambientais. Portanto, esses pensamentos estão sujeito a erros que gostaria que fossem corrigidos.
Essas duas observações são referentes à principal forma da boçoroca evoluir: a saída de partículas de areia do seu interior que se dá com as águas das nascentes que formam o riacho. Quanto menos água sair com menor velocidade, melhor. Então, cobrir o atoleiro e drenar as nascentes, em minha opinião, aumentariam respectivamente a quantidade de água e a velocidade das águas. A cobertura do atoleiro diminui a área de contato da água com o ar e assim, a evaporação. Drenar as nascentes com as pedras e canos realmente diminui a entrada de partículas de areia na tubulação. Mas, se a área de secção transversal em relação ao curso natural diminui, a velocidade da água aumenta, e assim, a erosão seria maior.
Queria deixar claro que não sou contra nenhum empreendimento na cidade, pois ela precisa crescer, e nem contra prefeitura e seus diretores e outros órgãos estaduais envolvidos na questão. Mas gostaria que quando esse crescimento esbarrasse em algum ponto crucial, seja ambiental, social ou histórico-cultural, que mexesse com a emoção do casa-branquense, fosse mais discutido antes de ser executado independente da área ser particular.
É isso que conseguimos nessa primeira etapa do movimento, ainda que desorganizada, após a descoberta acidental da obra pela população. De acordo com o engenheiro da Sequóia, a parte da boçoroca que legalmente pertence à gleba a ser loteada, será doada à Prefeitura como área verde. Exatamente a área que sempre usamos, sem saber que não era nossa. Já que agora “será nossa”, a decisão do que será feito lá deve atender aos interesses de todos os casa-branquenses, e não aos interesses do empreendimento.
Por último, queria agradecer cada assinatura e a participação de todas as pessoas que estiveram na obra, na delegacia, no fórum, na rádio, na praça, sem as quais não teríamos conseguido a paralisação da obra e o compromisso da Sequóia de reverter, dentro do possível, a situação com outro projeto, com a nossa participação, aprovado pelos órgãos competentes. Gostaria também de pedir que os ânimos exaltados pela facilidade de expressar as ideias pela internet fossem controlados, e que disséssemos apenas o que teríamos coragem de dizer cara-a-cara e na presença de nossos avós. Portanto, sem ofensas pessoais e palavras de baixo calão, pois, não gostaria que nessas discussões ninguém perdesse mais nenhum ente querido ou uma amizade querida.
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