Carmem Miranda (Maria do Carmo Miranda da Cunha), filha de José Maria Pinto da Cunha e Maria Emília Miranda, nasceu em Marco de Canaveses, uma cidade portuguesa do Distrito do Porto em 9 de fevereiro de 1909.
Pouco depois de seu nascimento, seu pai, José Maria, emigrou para o Brasil, onde se instalou no Rio de Janeiro. Em 1910, sua mãe, Maria Emília seguiu o marido, acompanhada da filha mais velha, Olinda, e de Carmen, que tinha menos de um ano de idade. Carmen nunca voltou à sua terra natal, o que não impediu que a câmara municipal de Marco de Canaveses desse seu nome ao museu municipal.
No Rio de Janeiro, seu pai abriu um salão de barbeiro na rua da Misericórdia, número 70, em sociedade com um conterrâneo. A família estabeleceu-se no sobrado acima do salão. Mais tarde mudaram-se para a rua Joaquim Silva, número 53, na Lapa. No Brasil, nasceram os outros quatro filhos do casal: Amaro (1911), Cecília (1913-2011), Aurora (1915 - 2005) e Oscar (1916).
Carmen estudou na escola de freiras Santa Teresa, na rua da Lapa, número 24. Teve o seu primeiro emprego aos 14 anos numa loja de gravatas, e depois numa chapelaria. Contam que foi despedida por passar o tempo cantando, mas o seu biógrafo Ruy Castro diz que ela cantava por influência de sua irmã mais velha, Olinda, e que assim atraía clientes.
Carmem Miranda marcou tanto com seu jeito de cantar, revirando os olhos, mexendo as mãos e gingando, com seu sorriso contagiante e a graça de seus trajes cheios de balangandãs, que até hoje, é o símbolo brasileiro mais conhecido no mundo. Mais do que uma voz, foi um fenômeno do show business norte-americano. Aportando nos Estados Unidos no início da Segunda Guerra Mundial, representou vivamente a terra desconhecida e exótica, cheia de coqueiros, bananas, abacaxis, atendendo às necessidades fantasiosas e consumistas do povo norte-americano e alcançando a glória e a fortuna.
De volta ao Brasil, depois de um ano ausente, foi recebida sob vaias em um show no Cassino da Urca, que abriu cantando South American Way. Em resposta bem-humorada ao público, lançou logo em seguida novo show, Disseram que Voltei Americanizada. Depois de apresentar-se em bares cariocas interpretando Carlos Gardel, aos 20 anos gravou seu primeiro disco, com músicas como Não Vá Sim'bora e Se o Samba É Moda, de Josué de Barros, e se apresentou pela primeira vez no rádio, com Iaiá Ioiô, também de Josué de Barros. Tornou-se famosa ao gravar a marcha carnavalesca Pra Você Gostar de Mim (Taí, 1931), de Jubert de Carvalho, que vendeu mais de 35 mil discos. Em meio aos foliões, participou, em 1933, de seu primeiro longa-metragem, o documentário A Voz do Carnaval, de Adhemar Gonzaga e Humberto Mauro. Seu último filme no Brasil foi lançado às vésperas do Carnaval de 1938: Bananas da Terra, de João de Barro, no qual interpretou pela primeira vez a música O Que É Que a Baiana Tem?, de Dorival Caymmi, lançando definitivamente para o sucesso tanto o compositor como sua baiana estilizada.
A convite do empresário norte-americano Lee Schubert, embarcou com o grupo Bando da Lua para os Estados Unidos, em 1939. Estreou na Broadway, cativando de imediato a crítica e o público norte-americanos. Quatro anos depois, fez seu melhor filme, The Gang's All Here (1943), dirigido por Busby Berkeley, no qual faz o número mais famoso: The Lady in the Tutti-Frutti Hat, cantando num cenário tropicalíssimo, com bananas gigantescas se movendo. Foram ao todo 14 filmes no exterior, rodados de 1940 a 1953.
Chegou a receber o maior salário até então pago a uma mulher nos Estados Unidos. Seu estilo eclético faz com que seja considerada precursora do tropicalismo, movimento cultural brasileiro surgido no final da década de 1960.
Em 1946, Carmen era a artista mais bem paga de Hollywood e a mulher que mais pagava imposto de renda nos EUA. Desde o início de sua carreira americana, Carmen fez uso de barbitúricos para poder dar conta de uma agenda extenuante. Adquiria as drogas com receitas médicas pois, na época, elas eram receitadas pelos médicos sem muitas preocupações com efeitos colaterais. Seu médico brasileiro constatou a dependência química e tentou desintoxicá-la. Ficou quatro meses internada em tratamento numa suíte do hotel Copacabana Palace. Carmen melhorou, embora não tenha abandonado completamente os vícios. Um colapso cardíaco fulminante lhe tirou a vida em 05 de agosto de 1955. Seu corpo foi embalsamado e veio de avião para o Brasil, onde uma multidão de um milhão de pessoas seguiu o cortejo de seu enterro.