O DILEMA DE MAXIMUS

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Maximus ou Max (apenas aos discípulos e amigos) é nosso cachorro, um bulldog inglês. Adora tirar uma soneca, meditar e filosofar. Sua grande sabedoria, embora em silêncio tem me ensinado porque atos são mais importantes que palavras. Um verdadeiro mestre não precisa fazer homilias, discursos, conselhos, apenas basta que seus discípulos o observem.


Max jamais levanta-se de uma soneca ou meditação sem fazer um alongamento cuidadoso. Apenas após efetuar esta prática iogue milenar em uma posição em que os quadris traseiros permanecem levantados e devagar abaixa-se o tronco com o pescoço  e queixo nivelados com o chão de forma que os braços permaneçam  paralelos esticados com sua cabeça. Fica-se nessa posição imóvel com algumas respirações lentas durante aproximadamente vinte segundos, após levantando o tronco em finalização. Pronto, Max está quase desperto, para outras tarefas.

 

Gosta de encostar seu queixo na parede ou no telhado de sua casa e neste momento percebe-se que está meditando, entrando em estado alfa. Ali fica por vários minutos, imóvel de olhos fechados tranquilizando seu corpo e sua mente. Quando chega o momento de filosofar, pensar a respeito deste mundo cão e suas indagações várias, Max se coloca em posição sentada com a cabeça em pé, de olhos abertos, fixos em um ponto longínquo, com toda imobilidade corporal necessária para que seus pensamentos fluam sem qualquer distração. Max não é adepto da escola filosófica peripatética de Aristóteles. Inclusive, Max prefere o silêncio e exercícios de movimentos lentos e relaxados de posições várias como a Ioga. Caminhadas apenas o breve necessário para manter seus músculos em dia e suas coronárias saudáveis, de preferência ao pôr-do-sol. Não todos os dias, claro!

 

Quando o dia esquenta e Max sente que sua temperatura corporal excede o saudável, deita-se  de forma que sua barriga e toda parte inferior de seu corpo fique em contato com o solo frio, com as quatro patas esticadas, duas para frente e duas para trás.

 

Ao primeiro sinal de sono, entrega-se, não importando o horário ou ocasião, segundo seu entendimento, estas breves sonecas dão profundo descanso para seu físico e sua mente, estando pronto e desperto ao acordar, mas com uma observação, Max jamais levanta-se de supetão (cede apenas em ocasiões extremas em que seu ofício de defensor da residência é chamado), seu acordar é propositadamente lento, levando de um a dois minutos para o estado de alerta normal do dia a dia. Acredita Max que o despertar rápido e tenso é prejudicial à saúde, não havendo necessidade desta prática em um mundo moderno onde os perigos são quase que programados. 

 

Assim, com toda liberdade e amizade que tenho com Max, diariamente bebendo de sua silenciosa sabedoria, propus a ele um difícil dilema e com toda sua educação costumeira, percebi que em nome de nossa amizade, delicadamente aceitou a proposta, já que experiente filósofo e pensador, não haveria motivo em recusar este meu pedido. Confesso que senti um certo constrangimento em tomar esta liberdade, mas Max com seu olhar profundo onde guarda milenares imagens de seus bravios antepassados caçadores de touros, simplesmente concordou com um leve movimento de cabeça, que entendi como um, 'manda ver!'

 

Antes de relatar o problema proposto, gostaria de dizer que Max aprecia em demasia adentrar à residência (já que sua moradia fica em área aberta, também conhecida como quintal), onde tem oportunidade de praticar o domínio de território, não de forma violenta ou destrutiva, mas como tenho observado, pelo simples prazer em exercitar seus dotes possessivos mesmo que já por ele controlados, como também treinar seu sentido olfativo que com sua aguda observação pode catalogar a cada dia mais aromas em sua enciclopédia mental. Além de que sempre lhe sobra algo comestível para motivá-lo voltar para sua moradia e residência.

 

Vamos ao dilema, com o portão aberto de forma que Max poderá entrar em casa, três pequenos pedaços de pães são jogados ao seu alcance. Qual atitude tomar diante desta realidade? Entrar casa adentro onde também ganhará benefícios, além do prazer costumeiro ou ficar comendo os pães, sendo que a porta será fechada ao ser devorado o último pedaço de pão?

 

Max enfrentou o dilema com sua costumeira calma, não havendo sequer um momento de dúvida ou embaraço, ficou devorando os pedaços de pães, não dando importância alguma ao portão aberto, pelo menos aparentemente. Se  hesitou não deixou transparecer. Assim Max dá mais um recado, quem tiver ouvidos que ouça, "mais vale um pássaro na mão, que dois voando!






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