TE DEI MEUS OLHOS PRA TOMARES CONTA 2

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Na letra 'Eu Te Amo' do Chico Buarque, imagino ao ouvir a música que Amado e Amada estão com um problema no relacionamento, o que na atualidade se resolve com o chamado D.R. (discutir a relação) e Amado argumenta para Amada, lembrando o profundo entrosamento que tiveram ('se nós nas travessuras das noites eternas') que, 'já confundimos tanto as nossas pernas diz, com que pernas eu devo seguir. De fato, como ir embora se já não se sabe mais qual é a sua perna e qual é a minha perna?

 

E o Amado continua dizendo para a Amada, 'meu sangue errou de veia e se perdeu', 'meu paletó enlaça o teu vestido e meu sapato inda pisa no teu', e vai mais longe com, 'teus seios ainda estão nas minhas mãos', terminando com um inquestionável problema para quem terá que partir, 'te dei meus olhos pra tomares conta, agora conta, como hei de partir'. Difícil partir sendo que seu próprio olhar não é mais seu, é de sua Amada!

 

No fim e enfim, acredito que resolveram a questão, a Amada nada diz, se aquieta, o silêncio muitas vezes é melhor, quando se fala pode-se dizer muita bobagem, no calor da discussão diz-se coisas que não se quer dizer, depois arrependimento, as palavras machucam, ferem e o calar é bem-vindo.

 

Uma estorinha legal que também fala de relacionamento e seus problemas, do amor e sua indefinível ou difícil definição é assim contada, 'um dia a Amada diz para o Amado que ele precisa partir daquela casa em que moram pra que ele descubra o que é o amor. Quando esta descoberta acontecer e somente quando, ela novamente abrirá as portas daquela casa para ele, Amado. E Amado parte, anda por todos os cantos de seu país, pergunta, indaga e depois de dois longos anos volta à casa de sua Amada. Chegando, bate à porta e Amada pergunta, quem é? Ao que o Amado responde, sou eu! A porta não se abre e Amada diz a ele que ainda nada havia mudado, Amado ainda não descobrira o que é o amor. Amado mais uma vez anda por todos os lados, atravessa continentes, navega mares, indaga aos povos e mestres e depois de dois longos anos volta à casa da Amada, bate à porta e ela pergunta, quem é? Amado responde, sou eu! E a porta novamente não se abre. Amado desesperado atravessa mundos, escala montanhas, caminha desertos, indaga sábios, atravessa noites escuras e por fim volta à casa da Amada. Mais uma vez bate à porta e mais uma vez Amada pergunta, quem é? E Amado finalmente diz, é você! E a porta se abre.

 

E fico eu pensando com meus botões, será que amar é isto? É se perder no outro, é misturar tanto as pernas a não mais saber com que pernas devo partir? E se é isto, quanto tempo é preciso para que meu sangue erre de veia e que meus olhos deixem de ser de minha inteira responsabilidade? Eu deixo de existir para que você exista e você por sua vez também deixa de existir para que eu exista? E existimos os dois em um só, ou em um só não existe ninguém?

 

Pois é, descasca essa manga como diria um grande amigo meu!






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