Estudante-arqueólogo

ARQUEÓLOGO

Aprender algo muitas vezes é cansativo e chato. Ficamos lendo, relendo, pensando sobre o tema e o tema parece resistir ao nosso interesse e tudo vai ficando meio cinzento e tedioso.

Não deveria ser assim. O aprendizado nada mais é que o trabalho de um Indiana Jones e na vida de Indiana Jones não existe tédio, é pura aventura e adrenalina. Aprender é ir em busca de um tesouro perdido, de uma relíquia que conhecemos vagamente e agora vamos cavar até que o objeto a ser conhecido esteja em nossas mãos e então vamos apreciar sua beleza, acariciá-lo, reparar nos pormenores, sentir seu peso, seu brilho.

Não conhecemos para os outros, não aprendemos para os outros, aprendemos para nós, para satisfação própria. Um dia perguntaram a um senhor de 80 anos porque estava aprendendo inglês naquela idade e ele respondeu, pelo mesmo motivo que aprenderia com 30 anos. Os outros podem se beneficiar de nosso conhecimento, mas a busca do aprendizado é para nossa satisfação. Quando vamos estudar, muitas vezes ficamos ali com a matéria, ela nos olha, nós a olhamos e não há uma sintonia, não há um verdadeiro interesse, apenas uma obrigação. Estudar não deve ser encarado como uma obrigação, um dever, como faz um operário na fábrica em que trabalha, que entra bate o ponto e boceja. Estudar é aventura.

Estudar é pura arqueologia. Ficamos sabendo que há um objeto a ser conhecido, está distante de nós e enterrado a grande profundidade, é preciso viajar até o local e depois é preciso cavar. Por que queremos entrar em contato com este objeto de conhecimento? Porque conhecer alguma coisa é viver intensamente, é se sentir vivo, é aventura, é descobrimento, é fazer como Colombo, como Cabral, encontrar novas terras, novos povos, novos personagens, novas matas, novos tesouros. Imagine o sentimento de um conquistador ao avistar ao longe no horizonte um pedaço de terra até então dele desconhecido. Um frio na barriga, a expectativa do que vou encontrar, a adrenalina do conhecimento. Estudar e  aprender é conhecer este mundo em que vivemos, é estar dentro deste mundo, é desvendar os mistérios desta terra.

O estudante não pode ficar parado, há de fazer como o arqueólogo que se arma de suas ferramentas e sai em busca do objeto sagrado, do santo graal, da arca perdida, em busca de aventura e conhecimento, as duas palavras que andam juntas, são inseparáveis. Primeiro o estudante fica sabendo que há algo que ele desconhece, há um objeto desconhecido e ele como um bom arqueólogo não pode deixar passar, ele quer conhecer este objeto, por isso é um arqueólogo, se não fosse, poderia ficar sentado em uma cadeira sem fazer nada, dormindo e roncando como um bom gato ao lado da lareira, mas não, o estudante quer conhecer, é sua profissão, assim, sai em busca de sua relíquia e pergunta onde, em que mares, em que terras se encontra o objeto sagrado. Neste mundo há muitos mares, muitas terras, muitos livros, muitas apostilas e assim ele descobre onde se encontra a razão de sua aventura. O conhecimento é um mistério a ser desvendado, o estudante como um bom arqueólogo está empolgado, se não está empolgado trate de se empolgar, ou então desista da profissão.

Mistério. O objeto de conhecimento é um mistério para o estudante e ele percebe que a razão de sua busca se encontra dentro de um livro. O livro pode ser comparado a uma caverna escura, você encontra e fica na porta olhando para o fundo e perguntando, o que será que tem lá dentro. O sol ilumina apenas a entrada e conforme o estudante-arqueólogo vai se aprofundando, a iluminação o deixa solitário e é aí que a aventura começa. Os tropeços nas pedras espalhadas, o ouvir de um gotejamento ao fundo, plic, plic... um sussuro leve e outros sons característicos que só quem é aventureiro pode saber.

Certamente o estudante levou sua famosa pá. Não há como sair por aí em busca de conhecimento sem a velha e boa pá. Como desenterrar aquele objeto misterioso se não através de intenso cavar sob o sol escaldante do deserto. Ao longe estão as famosas pirâmides, o mapa diz que ao leste, depois da pedra grande contando 125 passos há uma depressão geográfica e no fundo um grande X marca o local. Agora é cavar, mas vale o esforço porque sou um arqueólogo e quero desvendar este mistério, quero abraçar este objeto desconhecido e torná-lo conhecido.

Assim deve ser encarada a busca pelo conhecimento, como uma grande aventura e que muitas vezes as escolas se esquecem e, ao invés delas se tornarem pirâmides, cavernas, navios piratas, templos perdidos, crateras de vulcões extintos, minas abandonadas e outros infinitos cenários de aventura, se tornam fábricas de papagaios cinzentos em um mundo sem graça e sem vida que os alunos encaram de cabeça baixa e olhares curtos não prestando atenção naquela pequena luz que reflete no horizonte e que talvez seja uma relíquia perdida brilhando ao sol. 


 

 

 

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