EU ERA APENAS UM GAROTO

Sonhos

Quando pequeno, com sete, oito anos, ia à igreja do Perpétuo Socorro em São João da Boa Vista com meus pais e ficava extasiado pela beleza que ali via. Interessante que não via riqueza, embora a igreja seja grande, bela e muito adornada. Via pobreza. Para todos os lados que olhava enxergava a beleza da pobreza. Para mim a pobreza era a mais bela flor que o cristianismo fazia brotar. Jesus pobre. Todos os padres que passavam indo do confessionário até o altar, adentrando ao prédio, caminhando pela igreja, para mim eram pobres, extremamente pobres.

 

A batina preta era exemplo no meu entender de devoção à simplicidade, os passos calmos que atravessavam os corredores com um leve barulho, eram para mim o mais santo caminhar. Para mim Jesus era pobre e seus seguidores mais próximos se orgulhavam desta posição inferior na escala econômica e faziam de sua vida um constante doar, um constante orar. Eu tinha oito anos e como diz Paulo, "quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino."

 

Realmente, logo que cheguei a ser homem, que acabei com as coisas de menino, percebi que aquilo tudo eram visões de um garoto sonhador que imaginava um Deus pobre, uma Igreja pobre, um Sacerdócio pobre. Mas, eu me desculpo, eu era apenas um garoto!



© 2012 - Folha da Jabuticaba - Todos os direitos reservados - © Mac 2012