Fiquei Triste

Sad Cartoon

Por Zé Figueiredo

Não tenho nenhuma informação a respeito do acontecido, não sei o porquê, não conversei com ninguém, não faço a mínima ideia das necessidades e autorizações, não sei se é bom ou ruim, não tenho formação técnica na área, apenas tenho olhos que vagam, que passeiam pelo horizonte muitas vezes sem autorização e neste vagabundear sem razão deram de encontro com algo que a alma que acostumada que é, com a solidão, sentiu falta de partilhar, falar, prosear sobre um tiquinho de tristeza que lá no fundo, foi se alojar.

É que estes olhos avistaram uma máquina de esteira trabalhando dentro da boçoroca, a mesma que algumas vezes quando moleque com meus primos e amigos fui brincar e há pouco tempo com meus filhos novamente me sujar. Esta mesma boçoroca de todos conhecida, com sua beleza única de dama imponente, que rasga o chão, que forma rugas de barranco a barranco como que uma saia pregueada, aquela muito usada pelas lindas normalistas em nosso Instituto formadas.

Imaginei o tempo passando pelos ponteiros do relógio que giravam rápido e quanto tempo havia passado até que este fenômeno natural por inteiro tenha se formado e ainda creio não tenha chegado ao seu final, porque dizem que é viva esta boçoroca, e se viva é, que tenha vida longa, que como um gigante deitado no seio de sua terra, descanse e traga descanso para nossos olhos com sua inconteste beleza.

Um olho d'água corre no mais profundo de seu seio que contém uma areia fina, um barro cor de tijolo que suja gostoso dos pés até o pescoço, colore a cabeça, o cabelo, o rosto, e quando no banho caseiro um rio por baixo dos pés vai se formando e devagarinho correndo, limpando, a vontade de lá voltar vai se formando e pensando nisto tudo e vendo aquela máquina fungando, algo dentro de mim parece que foi se apagando.

Imaginei um museu, do Ipiranga ou em França, um Louvre na beleza que dizem ter, com seus salões encerados, isto na minha imaginação que lá nunca fui pra ver, e uma máquina de esteira pela porta a invadir, subindo escadas, derrubando vasos, quebrando quadros, fazendo tremer cristais, lustres despencando e em mil pedaços partindo, não havendo ninguém para defender a ofensa desta invasão e percebi que nosso museu natural se encontra na mesma situação. Fiquei triste, por que não?







Comente!

© 2012 - Folha da Jabuticaba - Todos os direitos reservados - © Mac 2012