Por quê?

PORQUE

Vejo um casal de passarinhos construindo seu ninho. Vou reparando em todo trabalho diário, um entra e sai com pequenos galhos. Primeiro dá uma espiada para um lado, depois para o outro, somente após uma averiguação atenta, entra. Trabalho árduo. São inúmeras viagens com galhinhos de variados tamanhos e o tecelão parece não ter descanso.

 

Numa manhã, não vejo mais o ninho e percebo que o distraído jardineiro cortou fora o galho que sustentava o pequeno berço ao aparar a planta. Todo trabalho perdido. Alguns dias após vejo outro ninho sendo construído e acredito ser o mesmo casal. Um entra e sai costumeiro, ninho quase pronto e uma forte chuva derruba do galho toda trama de capim, assim, sem mais nem menos. Pego o ninho e coloco novamente no galho, mas os proprietários acharam por bem abandoná-lo. Falta de segurança, resíduo de odor humano...? Não sei, mas lá não mais voltaram.

 

Certamente deve ter o casal de pássaros insistido na proeza em outro local. A vida lá fora não é fácil como pensamos. Os animais, aves, insetos, répteis e tudo mais que essa natureza criou não vivem de sombra e água fresca. Se seguíssemos diariamente uma formiga, uma lebre, uma abelha.... perceberíamos que enorme aventura é uma vida na natureza. Embora todo ser vivo chamados por nós de irracional, tenha já algumas tarefas pré-determinadas pelo instinto e pela evolução, orientação gravada na espécie, mesmo assim eles não conseguem calcular todo o caos diário a ser enfrentado, mesmo assim o gavião rouba o filhote do canarinho, a coruja caça o distraído ratinho...

 

A diferença é que o inseto, o pássaro, a ave... não olham para trás, eles voltam a construir seu ninho em um ensinamento de que a vida continua, a paralização e a reclamação não vão construir um abrigo e este ninho somente terá seu término quando o proprietário levar o último galho ou paina para amaciar todo o atapetado. Esta atitude faz toda a diferença.

 

Não há espaço para o por que isso, por que aquilo. O ensinamento é este, a indagação não resolve seu problema, a natureza não responde ao pássaro porque a tempestade derrubou seu ninho, nem responde se ele era mesmo merecedor desta desgraça. Não responde simplesmente porque não há explicação a ser dada e o pássaro já aprendeu e assim ele começa a construir outro ninho. E nos intervalos de toda esta labuta, ainda encontra tempo para cantar.








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