Cara-metade

Por Zé Figueiredo

casal na chuva

Observe uma rua movimentada ou qualquer encontro em que haja grande aglomeração como festas, shows, comícios e note que a imensa maioria das pessoas estão distribuídas formando casais. Sobram naturalmente alguns esparsos cidadãos ou cidadãs solitários, mas os casais são vitoriosos na quantidade. São casais formados por amigos, namorados, companheiros, colegas de trabalho e por aí vai, mas há uma explicação para esta busca incessante de seres que se procuram e se encontram.

No livro O Banquete do filósofo Platão, ele conta através de seus personagens um mito que deve ser conhecido de todos, mas sempre é bom relembrar já que é bem interessante e nada como uma estorinha para dar uma relaxada e uma esticada nas pernas. Muito resumidamente, assim o mito do andrógeno é narrado:

Antigamente, os seres humanos eram enormes e redondos, com quatro braços, quatro pernas, duas cabeças e tinham os dois sexos. Eles eram muito fortes, vigorosos e muito presunçosos, assim resolveram um dia, fazerem uma escalada e marcharem contra os deuses. Zeus, claro, não gostou nada desta ideia e então reuniu-se com o demais deuses e ficaram pensando o que fazer com esses seres presunçosos. Simplesmente não podiam matá-los e depois de fulminá-los, fazer desaparecer a raça como fora feito com os gigantes porque os deuses ficariam sem os templos e as honras que estes seres lhes prestavam e os deuses como é sabido, gostam muito destas gentilezas. Também não podiam deixar este ato de insubordinação passar sem um castigo. Depois de muita reflexão Zeus resolveu partir os seres humanos em dois, assim ficariam mais fracos e menos arrogantes, diga-se de passagem que os deuses desaprovam esta atitude de soberba. Mandou enfim, que Apolo costurasse a pele e no lugar do remendo ficou o umbigo. Sem piedade, afastou as metades.

Depois disso, os seres humanos passavam a vida se sentindo incompletos, vagando desesperados pelo mundo, procurando sua outra metade. Quando se encontravam, as metades se abraçavam chorando, ficando assim, abraçados até morrer. Preocupado, com medo de que os seres humanos simplesmente desaparecessem da face da terra, Zeus criou os órgãos sexuais, para que pudessem se reproduzir enquanto estivessem abraçados. E esta é até hoje a nossa sina: vagar pelo mundo, nos sentindo incompletos, procurando nossa outra metade.

Muito interessante e agora já sabemos porque principalmente nos finais de semana nossas ruas e esquinas se enfeitam de jovens de todas as idades na busca incessante de sua, como costumamos dizer, cara-metade.

Espero que tenham apreciado e se gostaram, agradeçam aos gregos e seus maravilhosos mitos que se lidos com atenção podem explicar e muito os nossos relacionamentos e a trajetória da humanidade. Até mais. Abraços!






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