Por Zé Figueiredo
Gosto muito do mundo contemporâneo, quando se pensa no passado tudo parece tão árido, tão difícil. Apenas vez ou outra
tenho alguns pensamentos que me deixam com um sentimento que não é saudade porque não vivi este tempo pretérito,
talvez inveja dos cidadãos que viveram no passado
em qualquer tempo antes do século XX. O motivo deste malfadado sentimento que
sinto, explico, é que nos tempos idos,
homens e mulheres viviam, passeavam, trabalhavam e faziam suas refeições, em plena ignorância e esta falta de
informação fazia da vida, em
alguns aspectos, na minha opinião, uma verdadeira estadia
no paraíso em comparação aos dias atuais.
Vejamos na seara da alimentação. O sujeito não sabia quantas calorias um alimento possuia, se a gordura ingerida era trans, saturada ou insaturada, ignorava os ditos malefícios do delicioso bacon e as prometidas maravilhas de um brócolis, desconhecia a tabela do peso ideal, o contraditório bom consumo do álcool aconselhado hoje apenas em pequenas e responsáveis doses, como também ignorava as benesses da caminhada diária. Colesterol, triglicerídeos, uréia e afins eram desconhecidos do cidadão comum, entre outras milhares de informações de nosso mundo moderno, sem contar com as atuais pesquisas que se contradizem sem a menor vergonha.
Esta ignorância fazia com que se vivesse em total equilíbrio com a natureza, onde o homem nasce, vive e morre como uma maravilhosa fruta que depois de verdolenga, amadurece e simplesmente cai do pé numa trajetória vertical e natural, indo se alojar calmamente na terra a espera de novamente iniciar seu ciclo eterno a serviço do universo. Tudo tão calmo como o sereno que umidifica a terra ao cair da noite. Não há erro, não há mal, não há irresponsabilidade.
Hoje, diante de tanto conhecimento, pesquisas, opiniões, me vejo responsável por todo pedaço de pão que como, chegando ao ponto de ser invadido por um sentimento de culpa por qualquer alimentação não recomendada e ingerida como se por aquele ato irresponsável estivesse conscientemente buscando a morte em um suicídio programado.
O resultado disto tudo é que levarei para o túmulo a responsabilidade pela minha morte, ou porque não caminhei o suficiente, ou porque não me alimentei da forma devida e amplamente recomendada, ou porque não segui a última pesquisa dos competentes cientistas de Harvard e assim fico em meu devaneio do passado, vendo homens e mulheres vivendo suas vidas e morrendo suas mortes como simples pássaros sem saberem porque vieram e porque partiram, mas com certeza seus cantos únicos encantaram, não importando se durante um segundo ou cem anos.
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