Sem dúvida o livro é grande fonte de cultura, prazer, diversão..., mas a vida não se resume apenas em leitura e os ávidos leitores não estão em vantagem apenas porque gostam de ler. Normalmente os leitores habituais gostam de demonstrar que de certa forma são superiores aos comuns que muitas vezes nunca leram um livro na vida e que esta prática intelectual lhes dá um passaporte de entrada ao mundo mágico de sabedoria que jamais será alcançado pelo vulgar leitor inabitual, ou mesmo os analfabetos.
Em minha vida, por ter crescido sempre em contato com a vida rural, conheci inúmeras pessoas, trabalhadores do campo, suas famílias, esposas e filhos que diariamente juntos brincávamos em volta do curral laçando e montando em bezerros, jogando bola, acorrentando vacas, entre outras folias, que passaram para mim o hábito de escutar e respeitar, entronizando em minha mente as palavras, o jeito de falar, as histórias, os pensamentos e conclusões dos acontecimentos da natureza e mesmo as profecias sobre possíveis chuvas, temporais, secas...
Hoje relembro aqueles homens mais velhos, o jeito manso de falar, respeitoso de prosa agradável, solícito a todo momento, preocupado com o bem-estar alheio e suas palavras derramavam sabedoria como as águas do rio Congonhas que na Cachoeira faziam levantar uma névoa branca bonita de dar dó. Normalmente estes homens e mulheres eram analfabetos e certamente muitos já morreram sem ter lido um só livro, mas quanta erudição, quanta ciência, quanta temperança e sensatez, e quanta humildade!
Da mesma forma na cidade encontrei pessoas que nunca avistei com um livro na mão e foram para mim como uma enciclopédia, uma universidade de conhecimentos vários, sem falar na bondade de um conselho, na paciência com nossa ignorância juvenil, o apontar com o dedo a direção correta, a demonstração prática da vivência honesta, a disposição infinita em repetir os ensinamentos até que percebesse que o discípulo estava compreendendo o mestre.
O livro e a leitura são apenas apêndices da cultura, hoje usados com arrogância pelos falsos intelectuais, que desprezam a sabedoria do homem comum adquirida pela vivência, pela troca, pela oitiva dos mais velhos, pela experiência diária entre outras inúmeras formas de se tornar um sábio. As ruas, os mercados, as feiras, as cidades, as fazendas, estão inundadas de sabedoria, enciclopédias vivas que transitam humildemente carregando centenas de volumes impregnados na mente e na alma de homens e mulheres, na simplicidade muitas vezes de um analfabeto.
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